"Rude, sobranceira e caluniosa". Ana Jorge critica explicação do Governo para a sua exoneração

por Joana Raposo Santos - RTP
A provedora exonerada garante que "a seu tempo e em sede própria" irá contar a sua verdade. Miguel A. Lopes - Lusa

Ana Jorge considera rude e calunioso o comunicado do Ministério do Trabalho que explica os motivos do Governo para a sua exoneração e garante que, a seu tempo e em sede própria, vai contar a verdade. A RTP teve acesso ao e-mail que a provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa enviou aos colaboradores a despedir-se.

“Recebi - confesso que com surpresa - a minha exoneração do cargo de Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, função que assumi há menos de um ano”, começa por escrever Ana Jorge, dizendo ter sido “uma honra” servir essa casa.

“Mas foram 11 meses muito duros, em que, claramente, avançámos rumo à sustentabilidade financeira, à motivação dos colaboradores e, mais importante, no compromisso social que assumimos com milhares de pessoas”, explica.

Ana Jorge diz ainda que graças ao “tanto trabalho, desenvolvido em tão pouco tempo, e pelo plano de reestruturação sólido” que a sua equipa criou e queria implementar, não se sente hoje tão triste.

“Porém, o comunicado emitido pelo Ministério do Trabalho é, pela forma rude, sobranceira e caluniosa com que justifica a minha exoneração, motivo para me sentir desiludida”, frisa. “Sempre achei e hoje mais do que nunca, que em política, tal como na vida, não vale tudo”.

A provedora exonerada garante, de seguida, que “a seu tempo e em sede própria” irá contar a sua verdade. “Que é a verdade de quem serviu a SCML com a mesma entrega e espírito de missão com que desempenhei as várias funções públicas e cívicas ao longo da minha vida”, acrescenta.

“Uma última palavra para todos os colaboradores da SCML. Não houve tempo para fazermos o que estava planeado, mas, por favor, não desistam da SCML, que necessita de cada um de Vós para cumprir a sua ação junto dos mais vulneráveis”, lê-se no final do e-mail.
Montenegro nega saneamento político

As declarações surgem um dia depois de o Executivo ter anunciado a exoneração "com efeitos imediatos" da administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, justificando a decisão por a equipa "se ter revelado incapaz de enfrentar os graves problemas financeiros e operacionais da instituição".

A SCML era dirigida pela ex-ministra da Saúde socialista Ana Jorge há cerca de um ano, sendo a restante Mesa constituída por uma vice-provedora e quatro vogais.

"Infelizmente, esta decisão tornou-se inevitável por a Mesa, agora cessante, se ter revelado incapaz de enfrentar os graves problemas financeiros e operacionais da instituição, o que poderá a curto prazo comprometer a fundamental tarefa de ação social que lhe compete", justificou na segunda-feira o Governo de Luís Montenegro.

No mesmo dia, o PS anunciou que vai requerer a audição parlamentar urgente de Ana Jorge e da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social para explicar a decisão do Governo.

Esta terça-feira, o primeiro-ministro Luís Montenegro descartou que a decisão de exonerar a atual administração da Santa Casa decorra de um processo de "saneamento político".

"É preciso dar ao país sinais de normalidade no funcionamento da nossa democracia. Não há saneamento político nenhum. Aliás, eu creio que quem fala em saneamento político porventura queria garantir a manutenção de alguma afinidade partidária das pessoas que vão cessar funções na Santa Casa da Misericórdia", declarou.
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